Os utentes devem estar conscientes que, quando vão aos serviços de saúde, «as coisas podem correr mal», apesar de «normalmente correrem bem», alertou esta sexta-feira um cirurgião, a propósito do erro médico, que afecta um em cada dez doentes.
José Fragata é director do Serviço de Cirurgia Cárdio-Torácica do Hospital de Santa Marta, em Lisboa, e irá sábado falar do erro médico durante um seminário sobre a «Segurança do Doente».
Em declarações à Lusa, José Fragata defendeu uma discussão livre e aberta em torno do erro médico e que este não esteja tão envolto em «culpas», mas sim em «responsabilidades».
O clínico reconheceu que «os médicos não gostam de assumir o erro», pois este «é sempre a frustração de um resultado». Na sua opinião, «mais importante do que perguntar quem fez isto [o erro] é tentar saber como é que isto aconteceu».
«Normalmente as coisas correm bem, mas as pessoas devem estar conscientes que, quando vão aos serviços de saúde, as coisas podem correr mal», disse.
E correm mal para uma em cada dez pessoas que recebem cuidados de saúde, segundo dados da Organização Mundial de Saúde, que também reflectem a situação em Portugal, de acordo com José Fragata.
O cirurgião acrescenta que não existem especialidades médicas isentas de erro, porque «a medicina é feita por humanos e errar é humano». Os erros devem, contudo, servir para a aprendizagem de quem está nos serviços, porque, «aprendendo com os erros, é possível evitá-los».
Erro faz duas vítimas: o utente e o médico
O médico enalteceu os dispositivos de segurança que fazem com que hoje em dia os erros possam ser muito mais evitados. José Fragata dá o exemplo dos alarmes nos monitores cardíacos que alertam para qualquer anomalia com o doente, ou a cor das mangueiras no fornecimento de anestesias, que informa quais os mecanismos que devem ser accionados.
São dispositivos de segurança que funcionam na medicina como o cinto de segurança ou o airbag na condução e que «ajudam os profissionais a errar menos».
O cirurgião alertou ainda para as condições em que o pessoal da saúde trabalha e que «condicionam os resultados». «Um serviço com menos meios humanos não pode exigir aos seus funcionários bons resultados», disse, estendendo a ideia à capacidade de quem lidera e ainda às condições técnicas.
Perante o erro, José Fragata lembrou que este «faz sempre duas vítimas: o utente e o médico».
O seminário que irá abordar esta temática tem como objectivo promover a notificação, a análise, a prevenção do erro médico e dos acontecimentos adversos ou complicações decorrentes da intervenção médica.
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