Notícias, informação e debate sobre as queixas em saúde, nomeadamente quanto à negligência médica e erro médico em Portugal.
27.8.10

O Hospital Garcia de Orta, em Almada, já sabe o que correu mal no caso das duas crianças vítimas de uma troca de medicamentos em Junho. A conclusão do inquérito interno ao incidente está para breve. Para que o processo fique fechado falta apenas o relatório clínico final do estado de saúde da criança de 18 meses. O bebé pode mesmo ficar com sequelas permanentes e a confirmação da existência de lesões irreversíveis determinará o enquadramento disciplinar e/ou criminal em que incorrem os profissionais envolvidos no caso.

Nos últimos dois meses, e mesmo após ter recebido alta do hospital, a criança de 18 meses continuou a ser alvo de tratamentos às queimaduras provocadas pelo medicamento trocado. O objectivo era contrariar o estreitamente nos intestinos que ocorreu após o uso indevido de ácido tricloroacético. Este medicamento, utilizado para as hemorragias nasais, foi dado a duas crianças que deviam ter tomado um sedativo. Até agora os tratamentos não conseguiram inverter a lesão nos intestinos, que causa dores à criança, mas o serviço de pediatria ainda não deu oficialmente por terminada a sua intervenção. São estes dados que os responsáveis pelo inquérito esperam para concluir o seu trabalho.

Também o inquérito aberto pelo Ministério Público ainda está em curso e não foram até agora determinados os crimes em que incorrem os profissionais envolvidos. Questionada pelo i, a Procuradoria-Geral da República esclareceu que "estão em curso diligências de investigação" e "é prematuro antecipar o enquadramento jurídico dos factos". Na prática, isto significa que os dados apurados até ao momento não permitem determinar se estará em causa negligência, erro ou outro tipo de enquadramento criminal e sua gravidade.

Médica não está ilibada Os indícios recolhidos apontam para uma troca de medicamentos durante o circuito interno de distribuição. O hospital exclui que o erro tenha ocorrido na farmácia, o que iliba os funcionários deste serviço. Mas a partir deste momento todos os outros profissionais de saúde que contactaram com os medicamentos trocados podem vir a ser responsabilizados. Os que guardaram o ácido tricloroacético num frigorífico do serviço de otorrino, onde não devia estar. E a médica que o administrou, sem verificar o rótulo.

O ácido e o sedativo têm uma embalagem igual, uma tampa igual e um rótulo muito semelhante. Contudo, os dados inscritos no rótulo estavam certos. A médica, habituada àquele procedimento, pegou num pensando que era outro e terá confirmado a validade mas não o nome do tratamento que deu às crianças.

Lesões determinam indemnização Além das sanções disciplinares ou criminais aplicadas, as famílias das duas crianças podem vir a ser indemnizadas. Caso não se prove que tenha havido culpa da médica na troca de medicamentos - nem de qualquer outro funcionário -, o hospital arrisca-se a ter de pagar uma compensação monetária às famílias das crianças. Em casos de erro sem dolo, há uma responsabilidade extracontratual do Estado, a quem os dois bebés foram confiados.

No entanto, os montantes de uma eventual indemnização são muito variáveis, já que a aplicação da lei deixa aos tribunais um grande grau de subjectividade. Este cálculo depende de resto directamente da gravidade das lesões provocadas aos pacientes. Assim, o relatório clínico sobre a criança de 18 meses será também determinante para este cálculo.

Contactado pelo i, o hospital de Almada ainda não consegue adiantar uma data para o fim da investigação interna, apesar de garantir que esta está "praticamente concluída".

 

Link: http://www.ionline.pt/conteudo/75585-almada-inquerito-terminara-quando-medicos-concluirem-que-houve-lesao-irreversivel 

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23.8.10

Ordem dos Médicos alerta para riscos de novo site que dá uma segunda opinião aos doentes link Portal Segunda Opinião Médica nasce hoje e conta com mais de 150 especialistas. Mas a Ordem coloca em causa a legalidade do que diz ser um negócio. A partir de hoje um grupo de mais de 150 médicos vai estar disponível para dar uma segunda opinião médica através da Internet, em apenas 72 horas. O portal segunda opinião medica link, pioneiro no país, não é, contudo visto com bons olhos pela Ordem dos Médicos. O bastonário, Pedro Nunes, disse ao PÚBLICO que não foi informado na existência do site e deixou claro "que isto não é medicina, nem pode ser visto como um acto médico".

  

O portal permite que o utilizador, mediante o pagamento de 60 euros, enderece perguntas a um dos médicos disponíveis dentro de 78 especialidades. Poderá ainda digitalizar os exames médicos que tenha na sua posse ou enviá-los por correio para que o clínico complete a sua análise.

  

Para Pedro Nunes "este tipo de negócio não é reconhecido pela Ordem dos Médicos pois não pode haver uma opinião médica sem uma observação do doente, nem que seja através de um interface como são as videoconferências". O bastonário lamenta "que esta má prática" tenha agora chegado a Portugal e alerta para o problema da "responsabilidade criminal quando algum doente abandonar um tratamento". Pedro Nunes deu como exemplo o caso da Oncologia "onde as decisões são tomadas em consultas de grupo" pelo que não se coadunam com uma "opinião virtual individual". Fonte do Ministério da Saúde confirmou ao PÚBLICO que também não sabia do projecto, assim como a Inspecção-Geral das Actividades em Saúde que, por sua vez, tenciona contactar a Ordem após o lançamento oficial do site.

 

Apesar de o bastonário não conhecer o projecto, um dos pioneiros a aderir foi o presidente do conselho regional de Imunoalergologia da Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos. José Pedro Moreira da Silva destacou que "o portal não substitui as consultas" e lembrou será emitida "uma opinião baseada naquilo a que têm acesso", podendo não formular nenhuma posição. Já Manuel Carrageta, presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia, que está entre os 150 nomes, explicou que vai "imperar o bom senso", mas lamentou que não se tenha esperado por uma posição da Ordem.

 

Aí estão eles hiperactivos e ansiosos pela liberdade de escolha, pela concorrência, pelo marketing na saúde, enfim pelo “mercado”…

Ao analisarmos a lista de médicos aderentes nada nos surpreende. Para além de umas dezenas de ilustres desconhecidos surgem os habituais “empreendedores” cuja vocação médica há muito foi superada pela vocação comercial seja pelas estreitas relações com a IF seja com a atracção pela “medicina comercial” nas suas mais criativas variantes e expressões.

 

Depois da Clínica de Lagoa em estilo de minimercado da saúde aparece agora esta iniciativa que ilustra a avidez pelo negocismo médico e pela esperteza saloia. Tudo em nome da modernidade, da inovação e da “excelência”.

 

Quanto à existência de um sistema de saúde baseado no rigor e na prática de uma medicina clínica de base científica orientada pelos valores éticos e morais da profissão não vale a pena insistir porque estas tribos de comerciantes nem sequer compreendem a linguagem.

Se esta não resultar ainda fazem um acordo com a Wii para check-up’s virtuais em que se pode escolher o vestuário e a cor do cabelo do médico virtual.

 

É por isso que temos de resistir na defesa do SNS.

 

Link: http://saudesa.blogspot.com/2010/08/o-negocismo-ao-rubro.html 

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22.8.10

Alerta para excesso de exames médicos

 

 

Peso certo, bons hábitos à mesa, exercício físico, vacinas em dia e alguns rastreios são a receita para uma vida saudável. Sem factores de risco ou suspeita de doença, muitos exames não trazem benefícios.

No privado, os programas de check-up custam entre 150 e 1000 euros e contribuem para a ideia errada de que um indivíduo saudável deve realizar uma lista de análises e exames de rotina para detectar doenças mais cedo. Mas apenas alguns são úteis, seguros e eficazes. Mamografia, teste de Papanicolaou e a pesquisa de sangue oculto nas fezes são recomendados, de acordo com sexo e idade.

Muitos exames propostos pelas clínicas podem dar falsos positivos, ou seja, resultados que indicam uma doença inexistente. Além disso, o paciente é submetido a exames nem sempre inócuos.

Outro exemplo é a análise ao PSA, proteína produzida pela próstata, presente no sangue dos homens. Um valor elevado pode indiciar cancro da próstata, mas também é possível que resulte do aumento normal do volume desta glândula com a idade.

Aconselhar a referida análise sem indicação nem o devido esclarecimento acarreta riscos. Perante um PSA elevado, é comum o médico sugerir uma biopsia e eventual cirurgia, o que, em muitos casos, traz incontinência urinária, disfunção eréctil ou distúrbios da micção. Na maioria dos idosos, o cancro da próstata evolui lentamente sem constituir ameaça. É preferível evitar tratamentos, sobretudo quando não aumentam a sobrevivência e diminuem a qualidade de vida.

Por rotina, certos exames mais invasivos podem até ser prejudiciais. O raio X ao tórax, por exemplo, aumenta a exposição a radiações cancerígenas e não é suficiente para detectar o tumor do pulmão. Uma tomografia axial computorizada (TAC) a todo o corpo equivale a cem radiografias ao tórax e aumenta o risco de cancro (1 em cada 2000 pacientes).

Uma bateria de análises não é um seguro de vida. O diagnóstico precoce deve aumentar a probabilidade de cura sem alarmar o paciente com resultados imprecisos. Deve existir ainda um teste de confirmação. Converse com o médico e veja quais os exames mais adequados em função do seu historial de doenças. Em conjunto, podem chegar à solução certa.

Mais conselhos em www.deco.proteste.pt | 808 780 050

- Controle factores de risco das doenças cardiovasculares. Meça a tensão a cada dois anos a partir dos 18, o colesterol a cada cinco depois dos 35 e a glicemia de três em três após os 55

- Dos 50 aos 80 anos, faça o rastreio anual do cancro do cólon. As mulheres devem realizar uma mamografia todos os dois anos entre os 50 e os 70

- A citologia ou teste de Papanicolaou é também recomendada às mulheres de três em três anos, após dois exames normais, desde que iniciam a actividade sexual até aos 65

 

Link: http://dn.sapo.pt/inicio/ciencia/interior.aspx?content_id=1646072&seccao=Sa%FAde 

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21.8.10

Sob o risco de contribuir para publicitação de serviços de falsa telemedicina, realizado por 150 médicos envolvidos no projecto divulgado pelo ‘site’ Bem-vindo à Segunda Opinião Médica, não posso – nem devo! – deixar de expressar repulsa por actividades de mercantilismo da medicina, a que, hoje, o jornal Público, faz referência.

O jornal cita a opinião do bastonário da Ordem dos Médicos, Dr. Pedro Nunes, igualmente reprobatória da iniciativa. A actividade, ao que parece, é dirigida ou coordenada, por um tal David Goldrach, director do famigerado portal.

A segunda opinião médica tem que obedecer a regras estabelecidas no ‘Regulamento de Conduta nas Relações entre Médicos’, aprovado e enquadrado no ‘Código Deontológico’ da OM de 2008.

Primeira constatação, tão óbvia quanto espontânea: ‘não existe segunda opinião médica, sem que haja a primeira’. Ora, sendo assim, o médico assistente e consultor têm que respeitar o preceituado no regulamento de conduta, em especial o artigo 9.º, nos 1 e 2. Neste, estabelece-se a obrigação do médico da segunda consulta “não interferir na assistência que esteja a ser prestada por outro colega ao doente”; e, no caso desta segunda consulta, ocorrer por vontade livre do doente, o médico que a realiza “tem a obrigação de advertir o paciente de existir uma assistência médica múltipla, não consensual”. O artigo 12.º, n.º 1, admite que o médico assistente possa encorajar o doente a pedir uma segunda opinião, caso o entenda útil.

Embora o citado regulamento, em matéria de normalização de conferências entre médicos, me pareça menos claro do que os revogados artigos 110.º a 114.º do anterior Código, assaltam-me dúvidas que as mensagens do ‘site’ da segunda opinião estejam a respeitar regras elementares de deontologia, nomeadamente o preceituado no regulamento antes referido – incitam, directa e explicitamente, os doentes a pedir uma segunda opinião, à revelia do médico assistente. Uma coisa é a iniciativa partir do doente, outra é ser tomada por incitamento do prestador interessado da segunda opinião.


Do ponto de vista do exercício do ‘acto médico’ do género do proposto, e embora se socorra de tecnologias de telecomunicação, classifico-o como um falso acto de telemedicina. Telemedicina, a sério, é praticada por exemplo por um conjunto de médicos do SNS da região do Alentejo que, no espaço de 8 anos, já realizaram mais de 8.000 teleconsultas, em regime de videoconferência e no âmbito de diversas especialidades, envolvendo no acto, em simultâneo, o médico de clínica geral e o especialista. Curiosamente, este programa contou com escassos apoios oficiais, não obstante a existência de um tal Plano Tecnológico Nacional e de cobrir uma vasta região de população idosa, nos distritos de Beja, Évora e Portalegre. Isto, para além de representar uma melhoria substantiva de acesso dos doentes a cuidados especializados e ainda uma economia de transportes e meios utilizados pelo SNS.

Na Europa, o projecto mais consistente e desenvolvido em telemedicina localiza-se na Noruega, país que conta com um ‘Centro de Desenvolvimento de Excelência’, na Universidade de Tromso. Em Portugal, o Ministério da Saúde nunca passou de actos inconsequentes de folclore e, como o ‘Público’ refere, tal Ministério, mesmo no âmbito da Inspecção-Geral das Actividades da Saúde, desconhece a existência do tal serviço ‘segunda opinião médica’.

Na vertente do licenciamento do serviço, julgo oportuno destacar o que o José de Freitas escreveu há dias no ‘Aventar’. De facto, para a telemedicina, nem sequer existe qualquer regulamentação do licenciamento e exercício da actividade. Tais lacunas prestam-se à profusão de oportunismos – a Dra. Maria de Belém apadrinhou há três ou quatro anos a criação da Associação Portuguesa de Telemedicina, ignorando a experiência real e benéfica do Alentejo. Agora, constato que, no corpo médico do ‘serviço segunda opinião médica’, se integra alguém que esteve com a mediática ex-ministra no arranque da tal associação; a qual, ao que tudo indica, não funciona desde 2008.

De oportunismo em oportunismo, caminhamos por lodosos atalhos da falsa telemedicina e do mercantilismo da medicina. Os utilizadores pagarão 60 euros por cada consulta e, dizem os promotores do serviço, as seguradoras reembolsam. Até deste aspecto desconfio. Há seguros de saúde, os mais conhecidos, que não funcionam na base dos reembolsos; pagam directamente a médicos convencionados e os doentes suportam a comparticipação estabelecida. Quanto a mim, trata-se de uma história preenchida por capítulos obscuros. Quero acreditar que a OM consiga estancar a negociata junto das autoridades de saúde. Porém, não consigo. Vejo alguns dos nomes dos 150 médicos e a esperança evapora-se.

 

Link: http://www.aventar.eu/2010/08/21/a-falsa-telemedicina-ou-o-mercantilismo-da-medicina/ 

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A partir de hoje um grupo de mais de 150 médicos vai estar disponível para dar uma segunda opinião médica através da Internet, em apenas 72 horas. O portal segundaopiniaomedica.pt, pioneiro no país, não é, contudo visto com bons olhos pela Ordem dos Médicos. O bastonário, Pedro Nunes, disse ao PÚBLICO que não foi informado na existência do site e deixou claro "que isto não é medicina, nem pode ser visto como um acto médico".

O portal permite que o utilizador, mediante o pagamento de 60 euros, enderece perguntas a um dos médicos disponíveis dentro de 78 especialidades. Poderá ainda digitalizar os exames médicos que tenha na sua posse ou enviá-los por correio para que o clínico complete a sua análise.

Para Pedro Nunes "este tipo de negócio não é reconhecido pela Ordem dos Médicos pois não pode haver uma opinião médica sem uma observação do doente, nem que seja através de um interface como são as videoconferências". O bastonário lamenta "que esta má prática" tenha agora chegado a Portugal e alerta para o problema da "responsabilidade criminal quando algum doente abandonar um tratamento". Pedro Nunes deu como exemplo o caso da Oncologia "onde as decisões são tomadas em consultas de grupo" pelo que não se coadunam com uma "opinião virtual individual". Fonte do Ministério da Saúde confirmou ao PÚBLICO que também não sabia do projecto, assim como a Inspecção-Geral das Actividades em Saúde que, por sua vez, tenciona contactar a Ordem após o lançamento oficial do site.

David Goldrajch, administrador do portal, assegurou ao PÚBLICO que informou a Ordem e que até pediu autorização para fazer o lançamento do projecto nas suas instalações, não tendo obtido resposta. O responsável explica que "o Segunda Opinião Médica não é uma consulta e será apenas uma opinião sem prescrição de tratamentos". Goldrajch lembra ainda que "fora dos grandes pólos urbanos o acesso a um especialista de renome é muito mais difícil" e afirma que com este portal vai haver mais "igualdade", sendo "naturalmente garantida a confidencialidade".

Num comunicado sobre o lançamento do portal, o administrador sublinha que "a presente solução de telemedicina permite aos cidadãos complementar a informação sobre o seu estado de saúde e decidir mais esclarecidamente sobre os tratamentos a seguir e eliminar a dúvida". E dá como exemplo "um doente que quer confirmar um determinado diagnóstico, ou ter a certeza se deve ou não ser sujeito a uma cirurgia".

Médicos aderentes - "O portal não substitui as consultas"

Apesar de o bastonário não conhecer o projecto, um dos pioneiros a aderir foi o presidente do conselho regional de Imunoalergologia da Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos. José Pedro Moreira da Silva destacou que "o portal não substitui as consultas" e lembrou será emitida "uma opinião baseada naquilo a que têm acesso", podendo não formular nenhuma posição. Já Manuel Carrageta, presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia, que está entre os 150 nomes, explicou que vai "imperar o bom senso", mas lamentou que não se tenha esperado por uma posição da Ordem.

 

link: http://www.publico.pt/Sociedade/ordem-dos-medicos-alerta-para-riscos-de-novo-site-que-da-uma-segunda-opiniao-aos-doentes_1452299#Comentarios 

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18.8.10

Saúde (arquivo)

 

A família de um homem de 36 anos que morreu poucos dias após ter sido assistido por duas vezes no Centro de Saúde de Melgaço ameaçou, esta quarta-feira, avançar para os tribunais, alegando negligência médica, noticia a Lusa.

«Estamos apenas à espera do resultado da autópsia, mas já temos o caso nas mãos de um advogado e prometemos ir até às últimas consequências, para apurar o que se passou. Mas parece que não restam dúvidas de que foi muito mal assistido», disse à Lusa Rui Cavalheiro, irmão da vítima.

O irmão, Gonçalo Cavalheiro, que era professor de Educação Física na EB 2/3 de Melgaço, foi a 30 de Julho ao Centro de Saúde de Melgaço, onde entrou febril e a queixar-se de cansaço e de alguma dor de garganta. «Foi-lhe diagnosticada uma faringite e o médico de serviço receitou-lhe um anti-inflamatório, um antipirético e um antibiótico», contou Rui Cavalheiro.

A 01 de Agosto, Gonçalo voltaria ao centro de saúde «por não sentir qualquer melhora e porque lhe haviam aparecido umas manchas no corpo que o preocuparam». «Esta consulta não durou mais de cinco minutos. Não lhe viram a febre, não se preocuparam com o cansaço que bem demonstrava, nem lhe fizeram outro tipo de exame, como por exemplo auscultação e medição da tensão arterial», critica o irmão da vítima.

De acordo com Rui Cavalheiro, «não foi valorizada» a informação do vizinho que transportou o irmão ao centro de saúde, segundo o qual «aquelas manchas poderiam ter sido provocadas pela febre da carraça». «O meu irmão deveria ter sido imediatamente encaminhado ao hospital para que lhe fossem feitas análises ao sangue e demais exames. Mas não. Foi mandado para casa, onde lentamente adoecia e uma infecção generalizada tomava silenciosamente conta do seu sistema imunitário», refere a família, na queixa que na terça-feira apresentou no Centro de Saúde de Melgaço.

A família acabaria por levar Gonçalo Cavalheiro para os hospitais do Porto, onde acabaria por morrer a 05 de Agosto, depois de ter sido induzido em coma para se tentar identificar o foco da infecção. «O Gonçalo era um rapaz atlético, forte, desportista e muito saudável, foi jogador de ténis de alta competição. Era dador de sangue e bombeiro voluntário. Transpirava saúde. Não descansaremos enquanto não apurarmos as responsabilidades pela sua morte», garantiu o irmão.

Contactado pela Lusa, o coordenador do Centro de Saúde de Melgaço, Luciano Sarabando, disse que ainda não tinha «conhecimento formal» da queixa da família, garantindo que logo que o documento lhe chegue às mãos o processo seguirá «os trâmites normais».

 

Link: http://diario.iol.pt/noticia.html?id=1185495&div_id=4071 

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Os familiares e amigos dos quatro doentes que cegaram na sequência de cirurgias aos olhos na clínica I-QMed, em Lagoa, Algarve, reúnem-se esta semana com um advogado para avançar com um processo conjunto na Justiça.

 

A única doente que continua internada no Hospital dos Capuchos, em Lisboa, é Valdelane Santos, de 35 anos, que ficou sem ver dos dois olhos. A amiga Josiane diz que a jovem "mantém a esperança de recuperar a visão, mesmo parcialmente". Acrescenta que os "médicos ainda não falaram que a cegueira vai ser permanente". Valdelane continua a receber apoio psicológico.

O CM tentou falar com o oftalmologista holandês Franciscus Versteeg mas as várias tentativas de contacto, incluindo para a Holanda, foram infrutíferas.

 

Link: http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/saude/doentes-cegos-vao-avancar-para-a-justica 

link do postPor Inconformado, às 08:56  comentar

17.8.10

Paulatinamente vai-se destapando o véu do caso da clínica de Lagoa. Afinal, de acordo com a imprensa, havia queixas, desde 2004, na Ordem dos Médicos, relativamente ao médico responsável, sem qualquer desfecho.

 

A situação é mais grave se atendermos que uma delas foi endereçada por um médico oftalmologista do Hospital de Portimão, que tratou de um dos pacientes, da clínica de Lagoa, que sofreu complicações pós-operatórias. O mesmo médico, Dr. Jorge Correia, refere que esta situação "dá uma imagem pública de ineficácia, laxismo e corporativismo". Concordo absolutamente com as declarações do referido profissional. O silêncio negligente da Ordem dos Médicos, relativamente às queixas apresentadas, permitiu que todas as pessoas que se dirigiam à clínica estivessem em risco. E alguns acabaram, infelizmente, por ficar marcados para toda a vida. E que consequências o senhor bastonário retirará deste caso?

 

Link: http://www.cmjornal.xl.pt/noticia.aspx?channelId=00000093-0000-0000-0000-000000000093&contentId=0dcd57ce-8c56-482a-a912-fb52806eac9f 

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Cegos avançam para advogado esta semana

 

Três dos quatro doentes operados no Algarve já tiveram alta hospitalar.


Os quatro doentes que foram operados na clínica algarvia I-Qmed vão escolher um advogado esta semana, para avançar o mais rápido possível com uma queixa crime contra o médico holandês que os operou. Ontem, dois dos doentes que foram operados às cataratas tiveram alta. Michael Donovan, de 66 anos, já saiu no sábado.

"Já seleccionámos dois grupos de advogados, e em princípio esta semana fica decidido a quem vamos entregar o caso para avançar com uma queixa", disse ao DN Dina Salvador, filha de Leopoldina, de 88 anos. "É mentira que o médico [Franz Versteeg] nos tenha dado apoio. Houve dois ou três telefonemas depois de termos vindo para Lisboa, mas nada mais que isso. Acho que deveria ter feito tudo para nos contactar", defendeu.

Acima de tudo, Dina lamenta o facto do tempo perdido por causa da falta de informação. "Acho que o médico identificou logo que era uma coisa muito grave e tentou tratá-la. Mas nunca nos disse o que era. Ele só assumiu que não poderia fazer mais, na segunda- -feira. Isso foi o que ele fez de mais grave à minha mãe. Passou tempo demais."

Leopoldina teve alta ontem do serviço de Oftalmologia do Hospital dos Capuchos. Ainda está a recuperar do choque de ter perdido a visão. "A minha mãe tem uma idade muito avançada e ainda está a interiorizar tudo o que se passou. Foi um choque muito grande", adiantou a filha, referindo que "obrigatoriamente" tem de arranjar alguém para ajudar a mãe que agora "tem muito medo de cair".

Também Ernesto Barradas, de 83 anos, teve alta ontem. Para já, vai ficar em casa da filha, enquanto não for possível encontrar outra solução". "Até dia 23, data da próxima consulta, vai ficar na minha casa. Depois teremos de ver, porque não sei se ele terá capacidade de ficar sozinho em casa", disse ao DN, Maria do Rosário Barradas.

"É uma revolta enorme. Pensar que ia ver e afinal passou-se isto. Antes ele saía, fazia as suas compras, agora não tem essa autonomia", acrescentou Maria do Rosário, que põe a hipótese de tentar mudar-se temporariamente para o Algarve, de forma a ajudar o pai. "O lar não tem vagas. Vou ver se é possível recorrer ao centro de dia e, talvez, arranjar alguém que o apoie à noite."

Valdelane Santos, de 35 anos, é a única doente que se mantém internada. Segundo nota do hospital, "continua ainda sob tratamento, mantendo porém o prognóstico muito reservado", não se prevendo para quando um diagnóstico final.

 

Link: http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1642619&seccao=Sul 

link do postPor Inconformado, às 10:34  comentar

16.8.10

Gasta-se 22 vezes menos com a saúde do que com fronteiras

 

Caso de cegueira em clínica ilegal voltou a colocar inspecção estatal em causa. A saúde está longe das áreas onde mais se investe, na Justiça só há dez inspectores, e mesmo no trabalho há carências

O Estado gasta anualmente mais de 220 milhões de euros com os vários serviços de inspecção, mas este número continua a ser insuficiente para cobrir as actividades que carecem de fiscalização. O caso da clínica de Lagoa, no Algarve, em que três doentes cegaram após uma operação aos olhos, reabriu o debate em torno desta matéria, com um dos sindicatos da função pública a denunciar, em declarações ao DN, que na Inspecção-Geral das Actividades em Saúde "deveria haver dez vezes mais inspectores que os que existem actualmente".

Segundo dados fornecidos pelas inspecções-gerais e ministérios ao DN, a Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) tem um orçamento de cerca de quatro milhões de euros, o que é bastante inferior a outras áreas. Tal "bolo" significa, por exemplo, que o Estado gasta 22 vezes menos a fiscalizar a saúde do que as fronteiras e a imigração (o SEF tem um orçamento de cerca de 87 milhões).

Os gastos com a área da saúde ficam também muito aquém do valor investido na educação, onde o Estado gasta quase cinco vezes mais (15 382 922 euros) ou na inspecção laboral, onde o orçamento é doze vezes superior ao da IGAS (cerca de 48 milhões de euros).

As insuficiências na inspecção foram ainda comprovadas pelo DN, que nas últimas semanas apurou que existiam em Portugal 300 clínicas de saúde ilegais e que não havia uma fiscalização específica para as saunas do País, embora a ASAE inspeccione os ginásios.

O presidente do Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado, Bettencourt Pincanço, garante que o caso de Lagoa revela que "toda a gente faz o que quer, abre as clínicas que quer e ninguém inspecciona nada. Na saúde deviam existir dez vezes mais inspectores e, enquanto isso não acontecer, as pessoas vão continuar a sofrer e até a morrer pelo País".

Por outro lado, a saúde não é a única área carenciada em termos de inspectores. Contactadas pelo DN, fontes das várias inspecções-gerais explicaram que, apesar da necessidade de aumentar o número de quadros na área da inspecção, os orçamentos "estão congelados".

Aliás, o próprio Executivo assume que há carências em algumas áreas, daí que a Autoridade para as Condições do Trabalho (antiga Inspecção-Geral do Trabalho) tenha em 2009 aumentado o seu número de inspectores em mais de 50%, tendo agora cerca de 400.

Mesmo assim, este é um número muito aquém de um défice que está identificado desde 1993, ano em que o então Instituto para o Desenvolvimento das Inspecções do Trabalho apontava para a necessidade de existirem 538 inspectores do trabalho em Portugal.

"A inspecção é uma das áreas em que a administração pública tem mais carências. Há menos inspectores do que é necessário e muitas vezes, a meio do ano, há equipas que querem sair para o terreno para inspeccionar e já não há dinheiro para pôr gasolina nos carros", denuncia Bettencourt Picanço.

Além do caso na clínica de oftalmologia no Algarve, tem havido outras situações que colocam em causa a inspecção. O mesmo aconteceu, por exemplo, no Verão passado na praia Maria Luísa, no Algarve, quando o desabamento de uma arriba matou cinco pessoas. A partir desse acontecimento foi reforçada a fiscalização, que fica a cargo da IGAOT (Inspecção--Geral de Ambiente e Ordenamento do Território), o mesmo organismo que permitiu, por exemplo, o polémico licenciamento do Freeport em 2002.

Outra situação em que houve, alegadamente, falhas na fiscalização foi no caso dos submarinos. De acordo com um relatório pericial do Ministério Público sobre o negócio - divulgado em Outubro de 2009 pelo jornal Público -, o Estado falhou na fiscalização das contrapartidas da compra dos submarinos alemães.

Nas organizações que, então, falharam foram incluídas a Comissão Permanente de Contrapartidas (CPC) da Assembleia da República e as "tutelas ministeriais". Neste rol inclui-se a Inspecção-Geral de Defesa Nacional que fiscaliza, entre outras entidades militares, os vários ramos das Forças Armadas, bem como estabelecimentos fabris militares. Ainda assim, a Inspecção- -Geral de Defesa Nacional é dos organismos de fiscalização do Estado com menos meios, tendo um orçamento de apenas 1 701 675 euros e contando com uma equipa de 21 inspectores.

 

Tendo em conta as falhas na fiscalização que se têm registado nos últimos anos, o presidente do Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado - organização afecta à UGT -, Bettencourt Picanço, não tem problemas em apontar o dedo ao Executivo: "A responsabilidade é do Governo por não investir mais na inspecção."

O DN tentou por várias vezes ao longo da última semana contactar o Ministério das Finanças e da Administração Pública, tanto por e-mail como por telefone, para obter esclarecimentos, mas não obteve qualquer resposta.

 

Link: http://dn.sapo.pt/inicio/economia/interior.aspx?content_id=1642069 

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14.8.10

Oftalmologista da clínica de Lagoa decidiu suspender transitoriamente actividade na Holanda, depois de ter sido ouvido pela inspecção de saúde daquele país

 

Só o Conselho Disciplinar do Sul da Ordem dos Médicos (onde está inscrita metade dos clínicos do país) recebe em média 300 novas queixas de doentes por ano. O bastonário Pedro Nunes é o primeiro a admitir a incapacidade da instituição para avaliar atempadamente as denúncias que ali chegam todos os anos. Fá-lo numa altura em que foi tornado público que a Ordem dos Médicos (OM) tem desde 2004 em investigação uma denúncia de um doente belga apresentada contra o mesmo oftalmologista que operou os quatro pacientes na clínica I-QMed, em Lagoa.

Franciscus Versteeg está agora a ser investigado em Portugal e na Holanda, onde também existem 17 queixas contra si. E decidiu ele próprio suspender temporariamente a sua actividade naquele país, onde possui outra clínica, depois de quinta-feira ter sido ouvido pela inspecção de saúde holandesa.

Na sequência do problema surgido em Portugal, que provocou já a cegueira parcial dos três doentes operados às cataratas, a inspecção decidiu reavaliar os 14 incidentes denunciados em 2004 e 2005 (problemas técnicos com um aparelho de laser) e acelerar a investigação de três queixas mais recentes, em colaboração com a organização profissional local de oftalmologistas. É vulgar um médico congregar um tal número de participações na Holanda? "É caso único" na inspecção, acentua o porta-voz do organismo, Wilbert Ranz.

Mil denúncias acumuladas

Notando que este tipo de problemas apenas se torna visível quando surgem "desgraças", Pedro Nunes defende que esta história "demonstra a total incapacidade da regulação em Portugal e até do cruzamento de informação na União Europeia". "Lamento muito que o processo de 2004 [o que está em investigação na OM] ainda não esteja concluído", acrescenta o bastonário. Mais a mais porque este caso até já tem um parecer do Conselho da Especialidade de Oftalmogia da própria Ordem desde Dezembro de 2007. Há quase três anos, portanto.

Mas Pedro Nunes lembra que há muito tempo que defende que o estatuto disciplinar da Ordem necessita de ser alterado, algo que "só a Assembleia da República" pode fazer. "Não são cinco médicos em part-time [o Conselho Disciplinar é composto por cinco clínicos que se reúnem uma tarde por semana] que conseguem dar resposta" a tal manancial de denúncias, algumas de grande complexidade, alega.

Aliás, a dificuldade de avaliação é de tal ordem que os processos em instrução se têm acumulado. Actualmente, são cerca de um milhar [só nesta região do país], adianta o presidente do Conselho Disciplinar do Sul, Freire de Andrade.

Quem não entende estas justificações é o oftalmologista Jorge Correia, o médico que em 2004 acompanhou e tratou no Hospital de Portimão o doente belga operado por Versteeg a uma catarata no olho direito. Aliás, na altura ficou de tal forma indignado com o caso que decidiu ele próprio juntar à participação de "nove páginas" do paciente uma denúncia assinada pelo seu punho. Com esta atitude inusitada, Jorge Correia quis alertar a OM para aquilo que considerava ser um eventual indício de que havia um colega "a fazer cirurgias num vão de escada".

"Imagem de laxismo"

Logo no segundo dia após a intervenção cirúrgica, o doente belga (que entretanto morreu) começou a sentir-se mal. No dia seguinte, quando procurou ajuda na clínica de Lagoa, percebeu que Versteeg já não estava em Portugal, recorda Jorge Correia. Assim, foi o auxiliar do médico - o psicólogo que, ao longo dos últimos anos, tem sido o seu auxiliar na clínica de Lagoa - que "fez uma fotografia ao olho do doente e o enviou via multimedia" para o oftalmologista. Feito o diagnóstico de endoftalmite, o paciente foi transferido para o Hospital de Portimão, onde só ao fim do sétimo dia de tratamento começou a melhorar e de onde acabou por sair com 30 por cento de visão.

"Apresentei a queixa em Novembro de 2004 e a única coisa que recebi da Ordem foi uma carta a dizer que tinha sido aberto um inquérito, em Março de 2005. Nunca mais disseram nada. Isto não pode ser um faroeste", critica Jorge Correia. Será que os casos que aconteceram em 20 de Julho passado podiam de alguma forma ter sido evitados se alguém tivesse feito alguma coisa? Sim, "não tenho a mínima dúvida de que poderiam ser evitados, se houvesse uma maior fiscalizalização" por parte das autoridades de saúde, defende o médico, que não tem actividade privada. Tudo isto dá uma "imagem pública de ineficácia, laxismo e corporativismo", lamenta.

 

link: http://jornal.publico.pt/noticia/14-08-2010/ordem-dos-medicos-admite-incapacidade-para-avaliar-queixas-20019252.htm 

link do postPor Inconformado, às 19:30  comentar

Entre o sector público e o privado há inversão do ónus da prova. 

 

O médico holandês que operou quatro pessoas em risco de cegar na clínica de Lagoa vai ter de provar a sua inocência se o processo por negligência chegar a tribunal. Mas se o mesmo caso tivesse ocorrido num hospital público, o processo seria diferente. Isto porque a relação contratual entre médico e doente é distinta numa unidade de saúde pública e no privada. 

 

"Quando um doente vai ao privado a responsabilidade do médico é contratual. Por isso presume-se a culpa daquele que causou o dano, ainda que seja culpa negligente. Neste caso o doente só tem de provar que sofreu um dano", explica a advogada Vera Lúcia Raposo. No caso do erro ocorrer numa instituição do Serviço Nacional de Saúde (SNS) "não há qualquer contrato, uma vez que a unidade de saúde está a prestar um serviço que compete ao Estado. Logo, não existe presunção de culpa", continua a professora da Universidade de Coimbra. Neste caso, o doente que apresenta a queixa tem de "fazer prova do dano e da culpa", conclui Vera Lúcia Raposo. Por outro lado, quando está em causa uma unidade pública, o processo que corre é contra o Estado e por isso é remetido para os tribunais administrativos. Já no caso de um erro cometido numa instituição privada, o advogado do lesado tem de fazer prova do dano provocado.

http://economico.sapo.pt/noticias/holandes-da-clinica-de-lagoa-tem-de-provar-inocencia_96917.html 

link do postPor Inconformado, às 11:14  comentar

Total de processos por erro ou negligência médica dispararam nos últimos anos. Indemnizações a doentes ultrapassam os 29 milhões de euros.

Apenas 53% dos hospitais públicos têm protocolos de prevenção de erro médico. Estes mecanismos, que resultam de processos de acreditação de segurança e qualidade, dão aos hospitais "menos margem para errar", disse ao Diário Económico o médico José Fragata, autor do livro "Erro em Medicina".

O inquérito da Inspecção Geral das Actividades em Saúde (IGAS), que avaliou, em 2009, o erro médico em 68 hospitais do Serviço Nacional de Saúde, conclui ainda que apenas um terço destas unidades de saúde admite ter sistemas informatizados de alerta e prevenção de riscos.
"Vai sempre existir uma taxa de erro, mas quanto melhor e mais seguro for o sistema, menor é a probabilidade de errar", explicou José Fragata.

De acordo com dados publicados no livro de José Fragata, por cada 100 doentes que recorrem ao hospital, 10 são vítimas de erro médico, ainda que em 65% dos casos sem consequências para a sua saúde. E ainda que em Portugal não exista um registo oficial destes casos, por extrapolação, a partir de estatísticas internacionais, é possível concluir que três mil pessoas morrem anualmente vítima de erro no sistema de saúde português.

 

http://economico.sapo.pt/noticias/metade-dos-hospitais-sem-prevencao-de-erro-medico_96918.html 

link do postPor Inconformado, às 11:13  comentar

13.8.10

"O médico tirou 50% da minha vida com a cirurgia"

 

Ronald Rietbroek viu-lhe atribuída incapacidade e deixou de trabalhar, após perder 50% da visão nos dois olhos em 2004. A viagem ao Algarve era suposto ser uma espécie de viagem de férias. A cirurgia seria tão rápida que na tarde do mesmo dia já poderia jogar ténis. A miopia seria resolvida (ou quase) e as dores a que estaria sujeito seriam mínimas. Este cenário foi o traçado por Franciscus Versteeg ao seu doente Ronald Rietbroek, que foi ao Algarve em 2004 para confirmar exactamente o oposto. Depois da cirurgia, perdeu 50% da visão dos dois olhos e viu-lhe atribuída incapacidade. Deixou de trabalhar. "Sinto que o médico me tirou metade da minha vida", contou ao DN. Ronald é um dos 14 doentes que foram tratados pelo médico holandês no Algarve em 2004 e um dos que ficaram com sequelas mais graves. O seu caso foi um dos três que chegaram à Inspecção da Saúde Holandesa e é o único que seguiu para um tribunal cível, apesar de estar há cinco anos à espera de solução. A operação foi em Março de 2004 e foi o próprio médico que sugeriu que viesse a Portugal. "Ia pagar o mesmo pela cirurgia, avião e estada e podia aproveitar para tirar férias. E pensei que fazia sentido porque não conhecia Portugal", conta ao DN. Já no Algarve, o médico sugeriu operar logo os dois olhos: "De todos os doentes que ali estavam, eu era o que tinha os melhores olhos para operar. Até disse que já podia ir jogar ténis à tarde..." Tal como muitos outros doentes que passaram por Versteeg, reconhece as capacidades de comunicação e o tratamento atento e amigável que dava aos seus doentes. O risco que aceitou pendeu para o cenário com menos probabilidade. Mal a anestesia passou, começaram as dores. "Eram insuportáveis, mas o médico dizia que iam ser ligeiras e iam passar rápido. Dois dias depois, numa sexta-feira, dirigiu-se à clínica e apenas encontrou o assistente. "Ele garantiu que não ia para a Holanda antes de domingo, mas foi. O assistente [Reinaldo Bartolomeu] tentou dar-me anestesia local para ir colocando em casa, mas eu não aceitei, porque era o médico que devia prescrever." A partir daí foi o pior :"Tive de suportar a dor com toalhas nos olhos. Só ao fim de três dias se tornou suportável, mas as dores não pararam antes das três semanas." A visão acompanhou o nível de dor. "Ele disse que ia ver mal durante seis meses. Devia ter dito seis anos!!" A visão é turva, passou de 2,5 e 2,75 dioptrias nos olhos para 6 e 6,75. Ou seja, a miopia duplicou. "Tornei-me fotofóbico [intolerante à luz] e mal posso sair e o esforço que faço para focar as coisas a todo o instante dá-me dores de cabeça constantes. Sobrevivo a analgésicos", desabafou. Já na Holanda, o médico sugeriu nova operação por metade do preço, mas o doente recusou. "Quando vi o programa de televisão com os casos dos outros doentes, achei melhor não ir." E não foi. Visitou antes três médicos que lhe responderam o mesmo: "Ficaram em choque e disseram que eu era inoperável. Tenho demasiado tecido cicatrizado nos olhos para isso." Depois da queixa, espera um dia ser compensado. "Os peritos estão a provar que, além do laser, o médico cometeu erros. Há um vídeo meu", explica. Até lá, continua a acordar da mesma forma. "Sempre que acordo, sou confrontado com o que o doutor Versteeg me fez." Valdelane Santos, a mulher de 35 anos que arrisca ficar cega dos dois olhos, está decidida a avançar com uma queixa em tribunal contra o médico holandês que a operou em Lagoa. Nem mesmo a possibilidade Franciscus Versteeg pagar uma indemnização atenua a memória dolorosa que a mulher brasileira tem da situação. "Ela quer ir a tribunal e avançar com uma queixa contra o médico", assegura ao DN Eliane Viana, irmã de Valdelane. Apesar de a decisão estar tomada, ainda não há data prevista para darem entrada com o processo. "Ainda não sabemos quando pode acontecer. Amanhã [hoje] falaremos com um advogado e ficaremos a saber se aceita o caso", adiantou, acrescentando que a irmã "está tranquila e sem dores".

 

Link: http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1640078 

link do postPor Inconformado, às 20:45  comentar

6.8.10

 

"Há uma lógica e uma cultura de tipo empresarial que esmaga a cultura médica", considera o bastonário da Ordem dos Médicos

 

 

Sobre o caso concreto de um possível erro médico na origem de complicações ocorridas com quatro doentes do foro oftalmológico, Pedro Nunes, o bastonário da Ordem dos Médicos, recusou pronunciar-se. Mas, sobre a situação da Saúde em Portugal, não tem dúvidas em afirmar que ela reflecte um predomínio da "cultura empresarial".

 

Em declarações citadas pela agência Lusa, Pedro Nunes afirmou que "este caso é exemplar das condições em que hoje em dia se exerce medicina em Portugal, que tem a ver tanto com o privado como com o público.


"Antítese do que é fazer medicina"


"Há uma lógica e uma cultura de tipo empresarial que esmaga a cultura médica". A medicina, acrescentou, está "transformada em mera prestação de serviço, em mero acto técnico".

O bastonário da Ordem dos Médicos manifestou a sua convicção sobre a importância de a intervenção cirúrgica, em princípio, ser levada a cabo pelo médico que deu a indicação operatória.

O que hoje sucede de forma recorrente, sublinhou, é "o caso de um doente operado na outra ponta do país por um médico que nunca o viu. A seguir a ser operado volta para a sua terra e não tem mais contacto com quem o operou". E reforçou a sua discordância de uma "medicina feita sem que haja uma responsabilidade no pré e pós operatório", que é, no fundo, a "antítese do que é fazer medicina".

Este tipo de contrasenso, precisou Pedro Nunes, tanto acontece no sector público como no privado.

 

Processo disciplinar a decorrer


Quanto à clínica I-QMed, que realizou as intervenções que agora se encontram sob o foco das atenções, o bastonário escusou-se a emitir alguma apreciação que se adiantasse aos resultados do inquérito e do processo disciplinar abertos pela Ordem.

Esclareceu, contudo, que nada obsta ao exercício da profissão por um médico holandês em Portugal: "Qualquer médico da União Europeia pode prestar serviços temporários noutro país sem que o estado de acolhimento possa impedi-lo. Para isso, basta comunicar à Ordem dos Médicos".

Também no que se refere ao licenciamento e registo da clínica, o problema não se situará forçosamente a esse nível porque há "um excesso de exigência burocrática em Portugal".

O presidente da Entidade Reguladora da Saúde, Álvaro Almeida, afirmara que a clínica "não está registada na Entidade Reguladora da Saúde (ERS). Não tínhamos conhecimento sequer da existência dessa entidade e portanto é uma entidade que actua à margem da lei, uma vez que o registo na ERS é obrigatório".


Alerta contra "prestadores de vão de escada"

Almeida criticara os utentes por recorrerem a "estes prestadores de vão de escada" e acrescentara que "são coisas à margem da lei que não deviam ter sido usadas pelos utentes". Concluira com a recomendação de que os potenciais utentes verifiquem sempre se a clínica a que se dirigem está registada na ERS, visto que "dá uma garantia de adicional de segurança e de qualidade".

Se esta clínica podia ou não considerar-se "de vão de escada", é outra questão, que não fica dilucidada com o facto de existir há sete anos, sem que conste ter havido anteriormente alguma fiscalização minimamente rigorosa.  No seu site, a I-QMed publicita-se como clínica com actividade "nas áreas de Oftalmologia, Otorrinolaringologia, Psicologia e beleza" e mantendo "parcerias com hotéis para proporcionar um preço competitivo de alojamento dando a oportunidade aos pacientes de desfrutarem de férias enquanto repousam de uma cirurgia".


Entretanto, uma fonte do Ministério da Saúde era citada pela agência Lusa a dar conta de uma investigação da Inspecção Geral das Actividades em Saúde (IGAS) que corre contra esta clínica desde 28 de Julho. Os quatro doentes que sofreram complicações podendo eventualmente levar à cegueira foram operados a 20 de Julho.

 

Link: http://tv1.rtp.pt/noticias/index.php?t=Bastonario-dos-medicos-critica-cultura-empresarial.rtp&article=365873&layout=10&visual=3&tm=2 

link do postPor Inconformado, às 18:55  comentar

5.8.10

Seguindo o compasso dos tempos, os governos introduzem critérios empresariais para medir a eficiência - e o "sucesso" dos serviços públicos, estabelecendo metas de desempenho e avaliação dos mesmos. A definição destes critérios coloca, à partida, um problema relevante: como é que avaliamos a qualidade dos serviços públicos? A questão é muito mais complexa do que parece. Em alguns casos, a resposta parece simples: se queremos melhor saúde, reduzimos as listas de espera nos hospitais. Se pretendemos mais segurança, tomamos medidas no sentido de baixar o crime de rua. Se perspectivamos um país mais qualificado, aumentamos o número de diplomados no ensino superior.

 

Este método de governação faz parecer que, finalmente, podemos responsabilizar os políticos, verificando se os objectivos por eles fixados foram ou não cumpridos. Mas é isto que queremos? Vamos então à crueldade da vida real. Cortar as listas de espera levou os médicos a tratar com mais rapidez as doenças menos importantes, deixando fora da lista os que sofrem de doenças graves. Por exemplo, o Relatório Nacional da Actividade em Cirurgia, de 2008, aponta para melhorias nas listas de espera, mas desvenda, igualmente, uma realidade cruel relativa aos doentes com cancro: "No ano de 2008, dez mil cirurgias ao cancro foram feitas fora do prazo, enquanto perto de 39 mil pessoas com patologias não prioritárias foram operadas em menos de sete dias". "No Hospital de Almada, um doente com cancro espera três meses por uma operação urgente, enquanto tem de aguardar 56 dias por uma cirurgia no Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental. Por causa destas esperas prolongadas, 233 doentes morreram em 2007 à espera de uma cirurgia".

 

Se observarmos a definição de metas para baixar o crime de rua, a realidade evolui na continuidade. Por exemplo, 14 900 ocorrências são dadas, em 2006, como tendo sido alvo de queixas à Polícia e não o foram (Carvalho Nuno, 2006).

 

O objectivo de aumentar o número de diplomados levou à redução dos critérios de admissão e da qualidade final dos licenciados e das licenciaturas. Por exemplo, entre 2000 e 2007, registou-se um aumento de 22 130 diplomados licenciados no ensino público e privado, não obstante o INE revelar que Portugal tinha 54 mil jovens diplomados sem emprego em 2009. Conclusão: potenciar a eficiência do serviço público pode fazer sentido se as medidas estiverem alicerçadas numa estratégia clara de desenvolvimento económico e de prestação de um serviço público de qualidade. Caso contrário, desperdiçamos dinheiros públicos.

 

A medição da produtividade pública não é tão simples como a medição da produtividade do sector privado, que tem o lucro como objectivo final. Contudo, muito do que é feito pelo sector público tem a ver com prevenção (do crime, da doença, de incêndios, etc.), sendo difícil quantificar o quanto foi prevenido. Neste caso, a obtenção de objectivos mensuráveis deve dar lugar a formas de avaliação mais complexas e menos empresariais do serviço público.

 

http://jn.sapo.pt/paginainicial/interior.aspx?content_id=1634214 

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link do postPor Inconformado, às 11:26  comentar

 
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