Notícias, informação e debate sobre as queixas em saúde, nomeadamente quanto à negligência médica e erro médico em Portugal.
23.8.10

Ordem dos Médicos alerta para riscos de novo site que dá uma segunda opinião aos doentes link Portal Segunda Opinião Médica nasce hoje e conta com mais de 150 especialistas. Mas a Ordem coloca em causa a legalidade do que diz ser um negócio. A partir de hoje um grupo de mais de 150 médicos vai estar disponível para dar uma segunda opinião médica através da Internet, em apenas 72 horas. O portal segunda opinião medica link, pioneiro no país, não é, contudo visto com bons olhos pela Ordem dos Médicos. O bastonário, Pedro Nunes, disse ao PÚBLICO que não foi informado na existência do site e deixou claro "que isto não é medicina, nem pode ser visto como um acto médico".

  

O portal permite que o utilizador, mediante o pagamento de 60 euros, enderece perguntas a um dos médicos disponíveis dentro de 78 especialidades. Poderá ainda digitalizar os exames médicos que tenha na sua posse ou enviá-los por correio para que o clínico complete a sua análise.

  

Para Pedro Nunes "este tipo de negócio não é reconhecido pela Ordem dos Médicos pois não pode haver uma opinião médica sem uma observação do doente, nem que seja através de um interface como são as videoconferências". O bastonário lamenta "que esta má prática" tenha agora chegado a Portugal e alerta para o problema da "responsabilidade criminal quando algum doente abandonar um tratamento". Pedro Nunes deu como exemplo o caso da Oncologia "onde as decisões são tomadas em consultas de grupo" pelo que não se coadunam com uma "opinião virtual individual". Fonte do Ministério da Saúde confirmou ao PÚBLICO que também não sabia do projecto, assim como a Inspecção-Geral das Actividades em Saúde que, por sua vez, tenciona contactar a Ordem após o lançamento oficial do site.

 

Apesar de o bastonário não conhecer o projecto, um dos pioneiros a aderir foi o presidente do conselho regional de Imunoalergologia da Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos. José Pedro Moreira da Silva destacou que "o portal não substitui as consultas" e lembrou será emitida "uma opinião baseada naquilo a que têm acesso", podendo não formular nenhuma posição. Já Manuel Carrageta, presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia, que está entre os 150 nomes, explicou que vai "imperar o bom senso", mas lamentou que não se tenha esperado por uma posição da Ordem.

 

Aí estão eles hiperactivos e ansiosos pela liberdade de escolha, pela concorrência, pelo marketing na saúde, enfim pelo “mercado”…

Ao analisarmos a lista de médicos aderentes nada nos surpreende. Para além de umas dezenas de ilustres desconhecidos surgem os habituais “empreendedores” cuja vocação médica há muito foi superada pela vocação comercial seja pelas estreitas relações com a IF seja com a atracção pela “medicina comercial” nas suas mais criativas variantes e expressões.

 

Depois da Clínica de Lagoa em estilo de minimercado da saúde aparece agora esta iniciativa que ilustra a avidez pelo negocismo médico e pela esperteza saloia. Tudo em nome da modernidade, da inovação e da “excelência”.

 

Quanto à existência de um sistema de saúde baseado no rigor e na prática de uma medicina clínica de base científica orientada pelos valores éticos e morais da profissão não vale a pena insistir porque estas tribos de comerciantes nem sequer compreendem a linguagem.

Se esta não resultar ainda fazem um acordo com a Wii para check-up’s virtuais em que se pode escolher o vestuário e a cor do cabelo do médico virtual.

 

É por isso que temos de resistir na defesa do SNS.

 

Link: http://saudesa.blogspot.com/2010/08/o-negocismo-ao-rubro.html 

link do postPor Inconformado, às 18:56  ver comentários (1) comentar

21.8.10

Sob o risco de contribuir para publicitação de serviços de falsa telemedicina, realizado por 150 médicos envolvidos no projecto divulgado pelo ‘site’ Bem-vindo à Segunda Opinião Médica, não posso – nem devo! – deixar de expressar repulsa por actividades de mercantilismo da medicina, a que, hoje, o jornal Público, faz referência.

O jornal cita a opinião do bastonário da Ordem dos Médicos, Dr. Pedro Nunes, igualmente reprobatória da iniciativa. A actividade, ao que parece, é dirigida ou coordenada, por um tal David Goldrach, director do famigerado portal.

A segunda opinião médica tem que obedecer a regras estabelecidas no ‘Regulamento de Conduta nas Relações entre Médicos’, aprovado e enquadrado no ‘Código Deontológico’ da OM de 2008.

Primeira constatação, tão óbvia quanto espontânea: ‘não existe segunda opinião médica, sem que haja a primeira’. Ora, sendo assim, o médico assistente e consultor têm que respeitar o preceituado no regulamento de conduta, em especial o artigo 9.º, nos 1 e 2. Neste, estabelece-se a obrigação do médico da segunda consulta “não interferir na assistência que esteja a ser prestada por outro colega ao doente”; e, no caso desta segunda consulta, ocorrer por vontade livre do doente, o médico que a realiza “tem a obrigação de advertir o paciente de existir uma assistência médica múltipla, não consensual”. O artigo 12.º, n.º 1, admite que o médico assistente possa encorajar o doente a pedir uma segunda opinião, caso o entenda útil.

Embora o citado regulamento, em matéria de normalização de conferências entre médicos, me pareça menos claro do que os revogados artigos 110.º a 114.º do anterior Código, assaltam-me dúvidas que as mensagens do ‘site’ da segunda opinião estejam a respeitar regras elementares de deontologia, nomeadamente o preceituado no regulamento antes referido – incitam, directa e explicitamente, os doentes a pedir uma segunda opinião, à revelia do médico assistente. Uma coisa é a iniciativa partir do doente, outra é ser tomada por incitamento do prestador interessado da segunda opinião.


Do ponto de vista do exercício do ‘acto médico’ do género do proposto, e embora se socorra de tecnologias de telecomunicação, classifico-o como um falso acto de telemedicina. Telemedicina, a sério, é praticada por exemplo por um conjunto de médicos do SNS da região do Alentejo que, no espaço de 8 anos, já realizaram mais de 8.000 teleconsultas, em regime de videoconferência e no âmbito de diversas especialidades, envolvendo no acto, em simultâneo, o médico de clínica geral e o especialista. Curiosamente, este programa contou com escassos apoios oficiais, não obstante a existência de um tal Plano Tecnológico Nacional e de cobrir uma vasta região de população idosa, nos distritos de Beja, Évora e Portalegre. Isto, para além de representar uma melhoria substantiva de acesso dos doentes a cuidados especializados e ainda uma economia de transportes e meios utilizados pelo SNS.

Na Europa, o projecto mais consistente e desenvolvido em telemedicina localiza-se na Noruega, país que conta com um ‘Centro de Desenvolvimento de Excelência’, na Universidade de Tromso. Em Portugal, o Ministério da Saúde nunca passou de actos inconsequentes de folclore e, como o ‘Público’ refere, tal Ministério, mesmo no âmbito da Inspecção-Geral das Actividades da Saúde, desconhece a existência do tal serviço ‘segunda opinião médica’.

Na vertente do licenciamento do serviço, julgo oportuno destacar o que o José de Freitas escreveu há dias no ‘Aventar’. De facto, para a telemedicina, nem sequer existe qualquer regulamentação do licenciamento e exercício da actividade. Tais lacunas prestam-se à profusão de oportunismos – a Dra. Maria de Belém apadrinhou há três ou quatro anos a criação da Associação Portuguesa de Telemedicina, ignorando a experiência real e benéfica do Alentejo. Agora, constato que, no corpo médico do ‘serviço segunda opinião médica’, se integra alguém que esteve com a mediática ex-ministra no arranque da tal associação; a qual, ao que tudo indica, não funciona desde 2008.

De oportunismo em oportunismo, caminhamos por lodosos atalhos da falsa telemedicina e do mercantilismo da medicina. Os utilizadores pagarão 60 euros por cada consulta e, dizem os promotores do serviço, as seguradoras reembolsam. Até deste aspecto desconfio. Há seguros de saúde, os mais conhecidos, que não funcionam na base dos reembolsos; pagam directamente a médicos convencionados e os doentes suportam a comparticipação estabelecida. Quanto a mim, trata-se de uma história preenchida por capítulos obscuros. Quero acreditar que a OM consiga estancar a negociata junto das autoridades de saúde. Porém, não consigo. Vejo alguns dos nomes dos 150 médicos e a esperança evapora-se.

 

Link: http://www.aventar.eu/2010/08/21/a-falsa-telemedicina-ou-o-mercantilismo-da-medicina/ 

link do postPor Inconformado, às 19:45  comentar


 
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